Educando as emoções

By on mar 20, 2019 in Geral, Projetos pedagógicos | 0 comments

Dinâmicas ensinam a desenvolver inteligência emocional

“Qualquer um pode ficar irritado. Mas irritar-se com a pessoa certa, na medida certa, na hora certa, pelo motivo certo e da maneira certa — não é fácil”. A constatação feita por Aristóteles no livro “Ética a Nicômaco” ilustra bem um desafio de muitos jovens ao lidar com as emoções. Realmente não é nada fácil lidar com a raiva, o medo, a inveja, a culpa, a frustração, embora sejam sentimentos comuns a todos os seres humanos. Mas como lidar com tudo isso de uma forma inteligente?

Assim como a linguagem e a matemática, habilidades socioemocionais são fundamentais para se ter uma vida feliz, serena e harmônica em sociedade. O conceito que ensina essas competências se chama inteligência emocional e, no Colégio Contato Maceió, os alunos têm a oportunidade de aprender a como se tornar uma pessoa melhor por meio de diversos projetos.

Marcos nacionais e internacionais de educação e direitos humanos destacam que o direito à educação está atrelado não apenas ao acesso à escola, mas à formação em todas as dimensões do ser humano. Estimular e desenvolver habilidades socioemocionais não significa contradizer a importância dos conteúdos curriculares tradicionais, na realidade auxilia na própria aprendizagem do aluno. Tamanha é sua relevância que o tema está presente em seis das dez competências gerais da Base Nacional Comum Curricular, documento que define conteúdos que os alunos têm o direito de aprender nas escolas.

Um dos projetos com esse intuito é o LIV – Laboratório Inteligência de Vida. Nele não existem tubos de ensaio, nem microscópios supermodernos. O que se faz nesse laboratório é experimentar sentimentos e relacionamentos por meio de várias dinâmicas lúdicas. São realizadas atividades coletivas que envolvem comunicação, colaboração e curiosidade. Professora de filosofia e responsável pela iniciativa no colégio, Célia Pereira completa: “No LIV nós desenvolvemos o senso crítico dos alunos, ensinando que não há sentimentos bons ou ruins, todos são permitidos e podemos lidar com eles da melhor maneira possível. Ensinamos que, com a ajuda dos outros, é possível ir mais longe e errar faz parte do processo”.

Alguns dos temas abordados são cidadania, ética, respeito, bullying, solidariedade, amizade, tolerância, meio ambiente, pluralidade cultural, deveres e direitos, saúde física e mental, entre outros. A programação envolve séries, jogos, círculo da confiança e diálogos. “Requer dedicação e paciência, pois trata do desenvolvimento de hábitos. O LIV nos ensina a educar as emoções por meio deles. É um trabalho de formiguinha e seus resultados serão mais perceptíveis em longo prazo, porém em dois anos já observamos mudanças positivas no colégio: comportamentos, afetividade e solidariedade, entre outras habilidades”, complementou Célia.

Os projetos voltados para a educação socioemocional permitem que o aluno crie uma base emocional para o convívio social: família, escola, amigos, redes sociais e em todo ambiente social no qual está inserido. Como o objetivo primordial é uma educação socioemocional, o aluno passa a compreender suas emoções e as das demais pessoas, aprendendo a gerenciar conflitos no enfrentamento das dificuldades. Dessa forma, tornase mais seguro de si, dono de suas opiniões, reconhecendo deveres e direitos.

“É uma tarefa que requer sensibilidade e tempo para que os frutos possam amadurecer. A formação intelectual e emocional do aluno acontece por meio de três esferas dinâmicas: entendimento, reflexão e ação”, pontuou Célia.

RELAÇÕES SIGNIFICATIVAS

O conceito de inteligência emocional se popularizou no mundo com o livro homônimo do psicólogo Daniel Goleman. O autor destaca pesquisas acadêmicas que comprovam o impacto dessa competência para a formação pessoal e intelectual de jovens e adultos. Ele salienta que o individualismo exacerbado e a competitividade trazem consigo isolamento e a deterioração das relações sociais. “A lenta desintegração da vida em comunidade e a necessidade de autoafirmação acontecem paradoxalmente num momento em que as pressões econômico-sociais exigem maior cooperação e envolvimento entre as pessoas”, afirma.

No contexto infantil, esse cenário traz um desconforto emocional num período crucial para a formação do adulto. “Um dos principais benefícios da adoção do trabalho direcionado ao desenvolvimento de habilidades socioemocionais se manifesta numa convivência escolar harmônica e pacífica entre os jovens, que agrega e fortalece uma formação por meio dos valores morais, intelectuais e estéticos. São práticas educacionais que se expandem muito além dos conteúdos cobrados em exames das disciplinas básicas. Os alunos aprendem a solucionar problemas dentro e fora das provas. São questões propostas que estimulam a análise do filtro da consciência e o discernimento para fazer escolhas”, comenta João Tomaz, diretor pedagógico do Ensino Fundamental.

Em resumo, inteligência emocional é a capacidade de reconhecer e avaliar as próprias emoções. Perceber os sentimentos dos outros e se capacitar para aprender a lidar com eles, além de usar essas informações para direcionar pensamentos e ações.

ENTRE NÓS

Outro projeto relacionado ao desenvolvimento socioemocional é o Entre Nós. Esta iniciativa acontece pelo menos uma vez por bimestre e proporciona momentos de conversa com os alunos sobre assuntos pelos quais eles se interessam. A vivência da adolescência é acompanhada pelos profissionais de psicologia, aumentando o vínculo dos alunos com a escola e criando oportunidades para que eles se expressem e façam reflexões.

“Inicialmente a demanda veio da escola para que nós trabalhássemos alguns temas mais inquietantes para os alunos, como mudanças no corpo, puberdade. Atualmente, a demanda parte dos próprios estudantes. No início do ano eu vou às salas e pergunto: sobre o que vocês querem conversar? O Entre nós é um momento realmente seguro, tudo o que os alunos falam fica entre nós, somente entre aqueles que estão presentes na sala”, explica Layla Borges, psicóloga do Ensino Fundamental.

Segundo o aluno Matheus Kalleb, do 7° ano, inicialmente havia certo desconforto durante as conversas, porém tudo passou a fluir. “Não gostava muito, mas com o tempo fui me acostumando e me soltando, passei a revelar meus sentimentos para outras pessoas. Acho os temas abordados muito interessantes para nossa evolução. O assunto que eu mais gostei foi o bullying. Para mim, deve ser bastante abordado, principalmente em colégios como o nosso, com tanta diversidade”, salientou.

ADOLESCER

Já no projeto Adolescer são desenvolvidas atividades pertinentes à adolescência, com dinâmicas para trabalhar habilidades socioemocionais. Nos encontros mensais, discutem-se temáticas sugeridas pelos alunos. Neste ano, foram abordados temas como ansiedade, depressão, sexualidade, violência, diversidade de identidade e demais conflitos que permeiam essas questões.

A repercussão tem sido bastante positiva. “Fizemos um levantamento no meio do ano para avaliar a iniciativa. Os alunos relataram que gostam bastante porque é um momento no qual eles podem expor opiniões, discutir e trabalhar entre eles percepções e preconceitos, além do respeito dentro das relações”, contou a psicóloga Samyra Rebêlo, responsável pelo projeto com alunos do Ensino Médio.

Mahitê Lopes, aluna do 1º ano, confirma a aceitação. “Sou um pouco tímida e não gosto muito de confrontos, por isso não me sinto confortável em discutir minhas opiniões e sentimentos com pessoas que não são tão próximas. O projeto proporciona momentos incríveis, acho sensacional. Até o momento o tema que eu mais gostei foi a depressão, para mim foi uma palestra muito boa e interativa, esclareceu todas as minhas dúvidas”, revelou.

De acordo com João Tomaz, o adolescente tem muita energia e precisa dedicar tempo para a construção do seu espaço, autonomia e identidade. “Leva tempo para achar seu lugar no mundo, nunca é fácil”. Citando o livro As Paixões da Alma, um tratado elaborado por René Descartes, conclui: “todas as nossas ações precedem pensamento e sentimento, por isso educar as emoções nos torna pessoas melhores, apaziguadas consigo mesmas e com os outros”. O impacto é significativo, não apenas para um crescimento equilibrado, mas, consequentemente, para o desempenho escolar.

Texto da equipe Em Contexto Comunicação publicado na Revista Contato! Edição 2019.

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